domingo, 14 de junho de 2020

PANDEMIA - TEMPO DE REFLEXÃO

Observando este Blog, percebi o quanto tempo deixei de escrever e projetar-me nas peripécias de minha caminhada cotidiana e atual. Hoje me permito dizer que estou vivendo um tempo de reflexão em quase noventa dias de reclusão da vida externa. Nestes dias saí de casa logo no começo em uma loja de Material de Construção para comprar cordas e suportes para botijas de gás. Com as cordas, suspendi minhas estantes da varanda do quintal da casa, com propriedade para lavá-la com o chão vazio. Com os suportes de botija de gás, coloquei gavetas e as posicionei embaixo da cama para poder varrer sem empecilhos. Fui à papelaria e comprei papéis coloridos para fazer atividades de artesanato e fui ao supermercado comprar meu leite de soja e massa para tapioca que são alimentos diários. Me lancei no desafio de fazer lives um dia pós início de quarentena e foi assim, por 60 dias consecutivos! Continuei nas lives três vezes por semana: segunda, terça e quarta feira, no objetivo primeiro: contar histórias para acalentar a minha própria alma e de quebra, a alma de alguém. Sempre sem a pretensão de grandes públicos, mas com a ideia de conhecer mais pessoas e até partilhar da experiência de se mostrar online também. Percebi que minha experiência dava certo e envolvia de fato pessoas. Os primeiros sinais negativos chegaram: Ao visitar o supermercado pela segunda vez, vi pessoas de máscaras e álcool para todo lado. O rosto das pessoas estavam com ar de angústia e já não sentia alegria ao meu redor. A papelaria e a loja de Material de Construção, estavam fechadas e a farmácia era a única loja além do Supermercado aberta e com pessoas com máscaras de acrílico, que pareciam máscaras de guerra com gás ou algo parecido. Resolvi ficar em casa definitivamente para me afastar desta cena de tragédia. Apesar da necessidade de ter saído duas vezes para o dentista. Pessoas que amo e da minha convivência foram infectadas por este vírus. Uns de forma assintomática e outras de formas bem doloridas. Perdi uma tia e um amigo neste tempo. Eu e muitas pessoas não tivemos como estar presente em seu enterro. Participei de uma demonstração de carinho de três amigos vindo festejar no portão de minha casa, a festa de aniversário de minha filha,com confetes e cartazes e muita alegria. Festejamos o mesmo aniversário duas vezes: com a família desta cidade e com a família de outros estados brasileiros, bem como Itália e Portugal. Festejamos da mesma forma o aniversário do tio que fez oitenta e dois anos de vida. Refletimos a grandiosa oportunidade de estarmos juntos devido à Pandemia. A incerteza de quando tudo vai acabar, a presença do vírus nos corpos de tantas pessoas, a doença e as mortes fatais em muitas pessoas, as discussões infundadas com os nossos queridos, nos dá a percepção de outra fase: a intranquilidade! O que fazer? Como reagir? A história vem de novo nos fazer refletir e acalentar nossa alma e nosso ser tão frágil de soluções. Então buscamos este alento nas palavras de Rubem Alves em sua história A Tranquilidade das Ovelhas: A noite estava escura, céu sem estrelas. De vez em quando ouvia-se o uivo de um loto bem longe, misturado com o barulho do vento. As crianças reunidas na tenda do Mestre Benjamim estavam com medo. Mestre Benjamim sentiu o medo nos seus olhos. Foi então que uma delas perguntou: "Mestre Benjamim, há um jeito de não ter medo? Medo é tão ruim" Mestre Benjamim respondeu: "Há sim..." E ficou quieto. Veio então a outra pergunta: "E qual é esse jeito?" "É muito fácil. É só pensar como as ovelhas pensam..." "Mas como é que vou saber o que as ovelhas estão pensando?" Mestre Benjamim respondeu: "Quando, durante a noite, as ovelhas estão deitadas na pastagem, os lobos estão à espreita. E eles uivam. As ovelhas têm medo. Mas aí, misturado ao uivo dos lobos, elas ouvem a música mansa de uma flauta. É o pastor, que cuida delas e não dorme nunca. Ouvindo a música da flauta elas pensam: Há um pastor que me protege. Ele me leva aos lugares de grama verde e sabe onde estão as fontes de águas límpidas. Uma brisa fresca refresca a minha alma. Durante o dia ele me pega no colo e me conduz por trilhas amenas. Mesmo quando tenho de passar pelo vale escuro como a morte eu não tenho medo. A sua mão e o seu cajado me tranquilizam. Enquanto os lobos uivam, ele me dá o que comer. Passa óleo perfumado na minha cabeça para curar minhas feridas e me dá água fresca para sarar o meu cansaço. Com ele não terei medo, eternamente..." Mestre Benjamim parou de falar. Os olhos de todas as crianças estavam nele. Foi então que uma delas levantou a mão e perguntou: "E os lobos? Eles vão embora? Eles morrem?" "Os lobos continuam a uivar. E continuam a ser perigosos. O pastor não consegue espantar todos eles. E por vezes eles atacam e matam. Mas as ovelhas, ouvindo a flauta do pastor dormem sem medo, não porque não haja mais perigo mas a despeito do perigo. Não há jeito de acabar com o perigo. Mas há um jeito de acabar com o medo. Coragem é isso: dormir sem medo a despeito do perigo..." As crianças voltaram para suas tendas e dormiram sem medo, pensando os pensamentos das ovelhas... De vez em quando, lá fora, ouvia-se o uivo de um lobo faminto. Desde então, tornou-se costume contar ovelhinhas para dormir. Rubem Alves Livro: Perguntaram-me se acredito em Deus Sem a antiga "moral da história", passo estes dias refletindo na grandeza de um Deus que há de suprir cada uma das minhas necessidades, seguindo a voz do meu pastor que me guiará, seja qual for o acontecido, contando história para acalentar a minha e a sua alma para seeeeeeeemmmprreeeeee.